Quarto maior mercado automobilístico do mundo, o Brasil viu o número
de acidentes fatais no trânsito aumentar em 72% entre 2000 e 2010,
segundos os últimos dados disponíveis. As razões para o grave quadro
seriam, além das precárias condições das estradas e falta de rigor nas
leis, a má qualidade dos carros comercializados no País. Em levantamento
publicado recentemente, a AP afirma que os veículos mais baratos de quatro das cinco montadoras mais vendidas no País falham em testes de segurança.
Especialistas
ouvidos pela agência apontaram que os carros nacionais são produzidos
com materiais inferiores aos modelos semelhantes destinados a
consumidores americanos e europeus. Em defesa, a indústria alega que
respeita as leis de segurança propostas pelo governo.
“A gravidade
dos ferimentos que vemos nos hospitais é terrível. São ferimentos que
não deveriam ocorrer”, afirma Dirceu Alves, da Abramet (Associação
Brasileira de Medicina de Tráfego). Segundo os profissionais ouvidos
pela AP, melhores condições de segurança dos próprios veículos já seriam suficientes para reduzir as mortes.
Dados
da IHS Automotive, consultora industrial, constatam que montadoras
lucram 10% a partir de cada carro produzido no Brasil, enquanto nos
Estados Unidos o total é de 3% e a média global está em 5%. A diferença
estaria relacionada ao material utilizado, fator facilitado pela
atrasada legislação brasileira, que apenas em 2014 exigirá, por exemplo,
airbags frontais e travagem anti-bloqueio em todos os veículos –
requisitos há anos obrigatórios em outros países.
O
resultado é que, segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil
registrou 9.059 mortes no trânsito em 2010, contra 12.435 fatalidades
nos Estados Unidos, onde há aproximadamente cinco vezes mais carros. A
conclusão é que o quadro brasileiro é praticamente quatro vezes mais
grave.
Técnicos da indústria entrevistado pela AP indicam
uma série de pontos que precisam ser aperfeiçoados na produção
brasileira, que, pelas análises, trabalha com uma estrutura cerca de 20
anos atrasada em relação à Europa e aos Estados Unidos, o que inclui
plataformas antiquadas, peças menos resistentes e até mesmo exclusão de
materiais fundamentais em alguns casos.
O governo acredita que as
recentes exigências mais rígidas quando a airbags e travas irá reduzir
as estatísticas negativas brasileiras. No entanto, a AP alerta que faltam testes independentes no País – prática comum nos mercados mais avançados -, o que diminui sua eficácia.