quinta-feira, 14 de junho de 2012

A história do petróleo em Campos dos Goytacazes/RJ

A história do petróleo no Brasil começou em 1858, quando o Marquês de Olinda concedeu a José de Barros Pimentel o direito de extrair betume em terras situadas às margens do rio Maraú, na Bahia. Em 1892, na cidade de Bofete, São Paulo, ocorre a primeira sondagem profunda no Brasil. O poço, perfurado por Eugênio Ferreira de Camargo, abrange 488 metros de profundidade. No entanto, encontrou-se apenas água sulfurosa.


A história do petróleo em Campos dos Goytacazes (RJ) começou em 18 de março de 1918, quando o Coronel Olavo Alves Saldanha, gaúcho, que havia sido prefeito em Quaraí (RS), nos períodos de 1904-1905 e 1907-1908, adquiriu a Fazenda Boa Vista, próximo à praia do Farol de São Thomé, distrito de Santo Amaro, com 2.263 alqueires, da Sra. Benedita Brasilina Pinheiro Machado, viúva de seu amigo e também gaúcho, General José Gomes Pinheiro Machado, por 1.200 contos de réis de porteira fechada. No patrimônio da fazenda constavam 9.000 cabeças de bovinos, 700 carneiros e 30 cavalos.

Quando ainda era proprietário da fazenda, o General Pinheiro Machado, em 11 de fevereiro de 1913, recebeu o então Presidente do Brasil, Marechal Hermes da Fonseca, para uma caçada. Ambos percorreram os campos da Boa Vista, do Xexé à Barra do Furado. Os limites da fazenda iam da Barra do Açu até a Barra do Furado. Todo o litoral campista pertencia à Fazenda Boa Vista.

Após a morte do General e Senador da República Pinheiro Machado, assassinado com uma punhalada nas costas por Manso de Paiva, em 1915 no saguão do Hotel dos Estrangeiros, no Flamengo, Rio de Janeiro, Olavo vem a Campos visitar a Sra. Benedita e se encanta pela Fazenda Boa Vista. Ele gostou tanto do lugar, que acabou por convencer a viúva a vender-lhe a fazenda.




Para administrar a fazenda, Olavo, mandou vir do RS o Sr. Euclides Pinto de Oliveira (1890-1986), Quido Pinto, como gostava de ser chamado, pagando-lhe 300.000 réis. Foi este senhor, que tornou-se fazendeiro, que contou, em 1982, a um jornal local a história do pioneirismo campista à busca do petróleo.

O ano de 1922, ficou marcado no Brasil pela Semana de Arte Moderna, em São Paulo, onde ocorreu uma revolução nas artes brasileiras. Em Campos, este ano também tornou-se histórico. Após detectar os primeiros sinais da existência de petróleo, Olavo Saldanha associou-se ao então poderosíssimo Grupo Henrique Lage para realizar as primeiras sondagens de prospecção de petróleo.


-"Eu vi - revela Quido Pinto - as bolinhas de barro, tiradas do poço aberto por Olavo Saldanha e Henrique Lage, pegarem fogo quando se acendia um fósforo e soltarem um cheiro que mais parecia querosene!"

Quido, declarou ainda que seu antigo patrão era um "homem de leitura e boa cabeça". Foi o primeiro a procurar petróleo no município de Campos.

-" Na Fazenda Boa Vista, havia uma vala que estava sempre com uma água oleosa e que, volta e meia, pegava fogo. Naquela época, falava-se muito em petróleo no Brasil e o velho Olavo era curioso e lia tudo a respeito do assunto. Um dia, ele chegou pra mim e disse que ia perfurar o local. Mandou construir um tripé, onde descia uma caçamba, pegou um trator para puxar a caçamba e começou os trabalhos."

-" Eu era jovem - prosseguiu - mas me lembro que, do barro que vinha da caçamba, ele fazia umas bolinhas que botava pra secar ao sol. Quando elas estavam bem secas, ele riscava um fósforo e elas pegavam fogo rápido. Depois saía uma fumaça e vinha, então, um cheiro de querosene. Ele dizia que secava o excesso de água e ficava só o inflamável."


-" Um ano depois - prosseguiu Quido - desanimado com o engenho que armou pra perfurar o poço, ele foi ao Rio de Janeiro onde teve uma conversa com Henrique Lage. Semanas depois, chegou à Fazenda um americano de nome Whickman, que examinou o local, as bolinhas de barro e, por carta, autorizou Henrique Lage a mandar a máquina para perfurar o local (foto acima). Alguns dias depois, aquele trambolho enorme chegou pelo trem e, com carretas puxadas por bois, trouxemos ela de Santo Amaro até a fazenda."

-"A máquina levou alguns dias para ser montada pelo americano. Ela foi colocada num terreno de frente à casa grande da fazenda e, perfurava por percussão, com o bate-estaca utilizado por essas construtoras de edifícios. Henrique Lage só veio uma vez à fazenda, quando ela começou a funcionar. Ela levou mais de um ano trabalhando e, à medida que a terra ia sendo retirada, as esperanças de se encontrar petróleo iam morrendo.

Até que um dia houve a explosão de um cano em que trabalhava a perfuradora. A peça empenou e, depois de perfurar pouco mais de 200 metros, os trabalhos foram interrompidos. "

-" De lá pra cá - finalizou - o velho Olavo se desentendeu com Henrique Lage e não mais chegaram a um acordo. Henrique queria comprar a fazenda, mas o velho Olavo não concordou. Chegaram a falar em arrendamento, mas seu Olavo disse que só aceitava se ele ficasse com a maioria.

Depois disso, o velho Olavo adoeceu, morreu e o americano nunca mais voltou ao lugar."

Com estes fatos, em Campos, podemos dizer que a existência de petróleo sempre foi uma esperança ou mesmo certeza, acalentada pelos antigos. A afirmação de que Campos possuía petróleo, com vasto manancial, aconteceu anos mais tarde, quando o geólogo Alberto Ribeiro Lamego, com base em estudos e pesquisas, afirma a existência do "ouro negro" no subsolo campista.

Os anos foram passando e muitas histórias surgiram: algumas lendas e fatos comprobatórios de que a Fazenda Boa Vista e o Xexé eram fecundos reservatórios de petróleo. Também no Morro do Querosene, inclusive no bairro do Turfe-Clube e na vizinha cidade de São João da Barra, foram encontrados vestígios de petróleo. Conta-se a história da descoberta, em terras sanjoanenses e campistas, de um óleo negro que pegava fogo e durava horas completamente aceso.

No Xexé foram realizadas diversas pesquisas, além dos trabalhos realizados no oceano em Atafona e Farol de São Thomé. Ainda, em relação às explorações realizadas no Xexé, é bom ressaltar que os trabalhos foram demorados e promissores sem, contudo, ser divulgado oficialmente o motivo de sua paralisação. Existem diversos poços lacrados até hoje no local.


Em 1973, foram publicadas as primeiras declarações de um mergulhador francês Jean-Pierre que havia petróleo em frente ao litoral de Campos, confirmada também pelo técnico Murray Lida, que dizia que eram promissoras as perspectivas do campo de Garoupa, localizado a 80 km do litoral, o PETROBRAS 1- RJS -9A. Foram as primeiras notícias divulgadas nacionalmente.

Desde o século passado se sabia da existência de petróleo em Campos. Nosso folclore está cheio de histórias de assombração que falam de fogo andante na região do Imbé.

Em 1900, Júlio Feydit, com seu "Subsídios para a história de Campos dos Goytacazes", revelou a presença de petróleo na região da Fazenda Boa Vista. E nosso importante geólogo, Alberto Lamego Filho, em seu livro "O homem e a restinga", ofereceu grande quantidade de evidências sobre a matéria.

Mais tarde, em 1944, o mesmo Alberto Lamego Filho, ampliaria suas revelações com o livro "A Bacia de Campos na Geologia Litorânea do Petróleo".




Fonte: http://camposfotos.blogspot.com.br

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